
A atriz Bete Mendes, de 65 anos, tem um currículo extenso. Interpretou personagens em dezenas de peças de teatro, cerca de dez filmes e mais de 40 novelas e minisséries na televisão. Mas não precisou interpretar nenhum personagem para participar, há exatos 30 anos, de um momento decisivo na história do país. Na manhã de 15 de janeiro de 1985, uma terça-feira, Bete estava no Congresso Nacional. Foi dela, então deputada federal pelo PT, um dos 480 votos que elegeram presidente o ex-governador de Minas Gerais Tancredo Neves (PMDB), candidato de oposição. O governista Paulo Maluf (PDS) obteve outros 180 votos na eleição indireta. Em meio a gritos e a aplausos, anunciava-se o primeiro mandatário civil do Brasil, após 20 anos de governos militares.
O currículo político de Bete vale como resumo da história recente do Brasil. Antes da eleição indireta, enfrentou a ditadura, apoiou as históricas greves do ABC paulista, participou da fundação do PT e atuou no filme Eles não usam black-tie (1981), de Leon Hirszman – um clássico sobre as greves e a vida das famílias de operários no tenso clima político daquele momento. Por ter ajudado a eleger Tancredo Neves, ela foi expulsa do PT – o partido se recusou a votar no Colégio Eleitoral. Bete ainda participou do movimento pela anistia e se tornou parlamentar Constituinte pelo PMDB.
Vários fatos tornaram Bete Mendes a musa da oposição à ditadura. Filha de militar, ela se negou a cantar o Hino Nacional na escola, já em abril de 1964. Foi suspensa. Engajou-se, aos 19 anos, no grupo de esquerda Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (Var-Palmares). Conciliava a vida de militante clandestina com o curso de ciências sociais na Universidade de São Paulo (USP) e o papel de atriz de destaque na telenovela Beto Rockfeller. Pelos companheiros, era chamada por codinomes. Já os telespectadores da novela a conheciam como a apaixonada Renata. Foi quando passou pela primeira de duas prisões.
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